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Cidade fundada a partir de um seringal de nome Foz do Muru, no início do século XX. Em 1907 passou a ser vila. Anos depois, 24 de Abril de 1913, foi elevada à categoria de cidade. Até 1943 o município se chamou SEABRA, quando então recebeu o nome TARAUACÁ, palavra indígena que quer dizer "rio dos paus ou das tronqueiras". O abacaxi gigante que a região produz, de até 15 kg, juntamente com as inúmeras tarauacaenses que venceram o concurso Miss Acre, Tarauacá ficou conhecida como “Terra da mulher bonita e do abacaxi grande”.

MINHA TERRA

Prof. Freitas


Oh! Tarauacá querida,
Minha terra que beleza,
Radiante em sua vida,
Com fulgor da natureza.

Traçada numa planície,
Que mostra sua singeleza,
O seu povo que meiguice,
As garotas, que beleza!

Suas flores, suas fontes,
Seus luares exuberantes,
Suas frutas abundantes,
Isto é hoje e já foi ontem.

Olhai as praças e ruas
Onde passastes outrora,
Quanta beleza se encerra,
Oh! Tarauacá de agora.
 
Seus campos, sua natureza,
Suas paisagens floridas,
Oh! Tarauacá querida!
Tudo demonstra grandeza,
Berço de povo gigante,
Vindos de terras distantes.

Seus homens são mais valentes,
Que outras terras que eu conheço,
Suas músicas mais eloquentes,
Suas riquezas com apreço,
Suas fazendas mais ricas,
Seu sol brilhante e gigantesco.

Terminando minha poesia,
Tarauacá que alegria,
Ser filho teu como sou,
Trabalhar em teu favor,
Quero ver-te grande um dia,
Meu berço e reino de amor.

 FREITAS, Francisco Alves. O amor, a natureza e o povo. Edição do autor.


* Francisco Alves Freitas, o prof. Freitas como é conhecido é poeta tarauacaense, autor de “Brados de Vida” e “O amor, a natureza e povo”. Além disso, dedica-se ao ensino há mais de três décadas.

** Fotografias de Giovanni Accioly, do blog Terra Morena.

O RIO DAS CIGARRAS

Uma boa leitura, numa visão bem acurada, acerca da região que envolve o Rio Muru, e um estudo valioso é o livro do prof. Gerson Rodrigues de Albuquerque, doutor em História Social pela PUC-SP e professor do Departamento de História da UFAC. Trata-se de “Trabalhadores do Muru, o rio das cigarras”, lançado em 2005 pela editora da UFAC. Abaixo um trecho da obra.

<< O Rio Muru não é o mais importante afluente do Juruá, não determina a economia de lugarejo algum, não é o mais longo, muito menos o mais navegável. Não creio, também, que comande a vida de quem quer seja, indispondo-me aqui, com os determinismos geográficos tão insistentemente cunhados por um certo tipo de historiografia que se propõe a interpretar a vida amazônica. Mas, às suas margens, igarapés e centros distantes, centenas de famílias vivem um cotidiano e constróem, a partir de inúmeros e complexos laços de identidade, uma cultura que, sem querer cair na vala comum do unitarismo, criando uma homogeneidade artificial, pode ser qualificada de “cultura seringueira”. >> 


Clique aqui para ler uma resenha do livro, escrita por Abrahim Baze.
Rio Muru. (Foto: Blog do Kbym)

ROTEIRO INFANTE

Leandro Tocantins


A José Néri da Rocha, que foi, como eu, 
menino de Tarauacá 


Eis o rumo principal, Avenida Juvêncio de Menezes. 
O calçadão entornando-se no meio da rua 
(não havia automóveis) 
articula os passos do menino. 
Aqui é o fórum adiante o mercado, 
A maçonaria, a prefeitura, o telégrafo 
(Ah! Sua torre, alta e esguia, a torre do telégrafo 
como um fio descido do céu, aproxima-se das nuvens 
para transmitir segredos ao pé do ouvido). 
A avenida vem ao encontro da Praça do Coreto 
Onde deslizam os sonhos, de onde vêm? Para onde vão? 
E o cinema no puro instante da imagem muda e iluminada 
Liberta fantasias na extensão de mundos inalcançáveis. 
Ali o menino vai receber 
Aulas de piano na bonita casa da professora. 
O médico, o delegado de polícia, a parteira, o padre 
Abrem as janelas e portas com vocação 
De receber e armar gestos amigos. 
A Avenida Juvêncio de Menezes 
leva as almas no instante do amor e do socorro 
na Igreja de São José que oferece 
a face, o perfil, a fonte da Santa Paz do Senhor.
Nem o tempo íngreme imobiliza em meus ouvidos
Os sons da banda como borboletas encantadas 
No coreto que se desprende do roteiro da 
Avenida Juvêncio de Menezes.

Rio de Janeiro, 1994 

 Tocantins, Leandro. O aprendiz renascido (poesia). Belém: Cejup, 1995.
Av. Juvêncio de Menezes a qual se refere Leandro Tocantins no poema acima.

Leandro Tocantins nasceu em Belém do Pará. Aos nove meses de idade viajou com seus pais para o Acre, estabelecendo-se no Seringal Foz do Muru, em frente à cidade de Tarauacá, onde se estabeleceram para administrar seringais, herança da liquidação da Casa Aviadora Barbosa & Tocantins, na Praça de Belém, afetada pela crise econômica da borracha. Os cenários virgens acreanos foram a primeira visão no espírito do menino, que mais tarde, se inspiraria, já escritor, a produzir Os Olhos Inocentes (Imitação da Infância), Prêmio Osvaldo Orico da Academia Brasileira de Letras, que ele classifica de novela existencial, Aventuras de Tizinho (nos rios e nas selvas amazônicas), novela juvenil adaptada para o teatro e encenada no Rio de Janeiro. Na verdade, toda a sua obra de escritor gira em torno de dois pólos de influência: Pará (Belém e ilha do Marajó), e Acre. É o primeiro a projetar literariamente a região de Tarauacá a nível nacional. Leandro Tocantins faleceu em 2004.

ÁGUAS DO TARAUACÁ

Toada “Águas do Tarauacá”, na voz de uma das consagradas vozes amazônicas, David Assayag. A toada é de autoria de Hugo Levy e venceu o Festival de Toadas 2009, promovido pela Prefeitura de Manaus, por meio da Fundação Municipal de Cultura e Turismo (Manauscult).


              P.S. favor desconsiderar o 'pequeno' equívoco de acentuação gráfica.

AS “CASAS DE FARINHA” DE TARAUACÁ

Mário Maia

Para o resgate da memória do povo tarauacaense, transcrevo um dos trechos do livro “Rios e Barrancos do Acre” do memorável médico e ex-senador acreano Mário Maia, editado em 1968, em Niterói (RJ). É uma transcrição acerca das casas de farinha de Tarauacá, barracões rústicos (feitos de madeiras, sem beneficiamento “industrial” e cobertos de palhas), construídos em épocas de eleições para congregar e alegrar o eleitorado, cujos resquícios ainda presenciei nos anos 90.


A casa de farinha [...] não era uma casa de farinha propriamente dita, isto é, o local onde se procede o fabrico de farinha de mandioca com caititu, roda bolandeira, prensa, forno, tacho de torrar, cocho para separar a goma do tucupi e demais apetrechos dessa faina de pequena e artesanal indústria de herança nativa, de transformação da macaxeira. A “casa de farinha” era um grande galpão cujas tesouras, linhas, caibros, longarinas e pernas-mancas, eram feitas de madeira roliça, sem descascar e coberto com palha de ouricuri. O assoalho era de tábuas grosseiras, sem aplainar, postas, ajustadas e pregadas lado a lado. Esse grande barracão assim descrito, construía-se periodicamente em Tarauacá, mais ou menos no mesmo lugar, nas épocas de eleições, daqueles tempos em que havia comícios e quando se ia falar, não se fazia boca-de-siri. Era edificada na beira do rio, bem em frente de onde o Muru conflui com o Tarauacá. Aliás, essa denominação de Casa de Farinha, foi oferecida pelos adversários que assim a denominavam, pejorativamente, a fim de causar raiva aos opositores, querendo significar que o local de suas festas políticas, pela aparência tosca da construção, assemelhava-se mais ao galpão da bolandeira e do caititu. 

Aconteceu que os partidários do PTB que construíam o barracão, ao invés de se apoquentarem, glosaram o chiste, transformando-o em sigla de propaganda político-partidária, popularíssima, invertendo, desse modo, a provocação dos pessedistas. 

Os trabalhistas de Tarauacá falavam com euforia e até com uma certa vaidade: – “Pois é; é nossa Casa de Farinha mesmo. Lá nós ralamos no caititu a macaxeira para fazer farinha, beiju e tapioca”. As palavras aqui vão além do seu simples significado: é uma alegoria para mangar do chefe principal do PSD no Acre que também era conhecido como deputado “macaxeira” devido a uma comparação pouco feliz que o mesmo, em uma das campanhas políticas, em um certo comício, fez com as raízes amidógenas dessa euforbiácea com os hábitos alimentares primitivos dos acreanos.  

Assim, o povo do “peteba” queria dizer que ia triturar o político, na casa de farinha, transformando-o em farinha, goma e tucupi. Dessa forma, com o passar do tempo, Casa de Farinha no município de Tarauacá, na linguagem política local, deixou de ser um simples galpão improvisado, para o povo humilde se divertir, nas épocas de campanhas políticas. Casa de Farinha tornou-se uma instituição de forte significado político, com características próprias e interessantes. Dessa concepção farinosa, institucionalizada pelos habitantes dos vales daqueles rios, principalmente nos períodos de propaganda para os pleitos eleitorais, costumam criar-se várias expressões populares derivadas desse fato, no sentido figurativo de exaltação do Partido, em suas manifestações folclóricas, tais como: “vamos fazer farinha”, “vamos à farinhada”, “vamos torrar beiju” ou “fazer tapioca”, expressões que no período da campanha política, equivalem a: “vamos mandar brasa”; vamos pular, gritar, dançar e dar “vivas” aos nossos candidatos, “vivas” ao nosso partido e “morras” aos adversários. Casa de Farinha, portanto, em Tarauacá, significa povo humilde, simples, de mãos calosas; gente afeita ao trabalho da agricultura, do seringal, dos roçados, das praias, dos rios e dos barrancos do Muru e do Tarauacá. 

Outro nome que venha a ter a agremiação representativa dessa gente e desses valores, vericar-se-á sem esforço que a expressão “Casa de Farinha” vai ficando, sedimentando-se, enraizando-se e enriquecendo de significado, já agora não mais simbolizando um galpão de palha, porém, sim, um estado de espírito social, político-partidário, cada vez mais consistentes em seu fim, influindo significativamente na sociedade local. De fato, extinguiram-se partidos, criaram-se novas siglas, mas a alma alegre das farinhadas não se extinguiu. Ela continuou e continua transformando a macaxeira em farinha, beijus e tapiocas. E não é mais só em Tarauacá. Todo o Acre está na farinhada, aderiu a farinhada e quanto mais macaxeira houver, mais caititus aparecerão para ralá-la. Assim, a expressão “Casa de Farinha” permanece viva, mesmo quando aquele galpão de madeira roliça e palha de ouricuri vai se acabando até se construir outro no mesmo lugar. 


MAIA, Mário. Rios e Barrancos do Acre. Niterói: Gráfica do Senado, 1978. (p. 121-123) 


P.S. caso alguém tenha alguma foto de uma “casa de farinha”, agradeceríamos se nos enviassem uma cópia.

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